segunda-feira, 14 de novembro de 2011

 A cultura nas garras do marketing
                                                       14 de novembro de 2011


O 5º Felit, Festival de Literatura de São João del-Rei , terminou domingo com o lançamento do belo livro produzido por alunos de escolas da cidade, inspirado na obra de Ziraldo, o escritor homenageado neste ano.  Além do empenho e criatividade dos alunos, o livro reflete o trabalho silencioso e eficiente de muitas pessoas de nossa comunidade:  Lúcio Teixeira, Ana Lúcia, Patrícia Monteiro, Sônia Haddad, José Antônio Oliveira Resende, entre outros.
Quanto à repercussão popular e na mídia, o Felit repetiu a timidez de outras edições. À exceção das sessões em que Ziraldo participou, um público muito pequeno participou das atividades realizadas pelo festival. Antes de lamentar a oportunidade perdida  de ver jovens e consolidados escritores, cabe uma reflexão por essa repercussão tão limitada. Por que estudantes da UFSJ, de outros cursos superiores e do ensino médio não participam de em evento cultural tão significativo? Pela inacessibilidade financeira não é, porque todos os eventos são gratuitos. Esta é uma indagação para ser investigada pelos organizadores do Felit.
O público pequeno não se deve também à omissão das instituições são-joanenses. O Conservatório de Música José Maria Xavier, o Centro Cultural Feminino, a secretaria de Cultura de São João del-Rei, a Universidade Federal de São João del- Rei e o Centro de Referência Musicológica José Maria Neves- CEREM, não pouparam apoio ao evento. Como então explicar uma ressonância popular tão acanhada?
Há exatos 21 anos, no início do governo Collor, a antiga FUNREI promoveu o seu 3º Inverno Cultural com minguados recursos. A nova administração federal, sob o pretexto de enxugar as despesas com o serviço público, quase levou a cultura brasileira à ruína. A extinção precoce do Inverno Cultural só não se concretizou porque, à época, por orientação do diretor da FUNREI, prof. João Bosco de Castro Teixeira, o mesmo que não hesitou em garantir apoio do CEREM ao Felit, que me autorizou a buscar parceiros que viabilizassem a sobrevivência de nosso festival.
E aí fomos com pires nas mãos. A primeira parceria conquistada foi com a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, através de seu então diretor, Prof. José Marques de Melo. Da ECA/USP,  recebemos,  sem custos, professores para das áreas de Teoria da Comunicação, de Turismo e da Escola de  Arte Dramática. A Escola Nacional de Circo nos ofereceu outros três cursos.  Na Biblioteca Nacional, e daí vem o gancho para esta crônica, eu e Lúcia encontramos, mais do que a simpatia, a colaboração incondicional do escritor Affonso Romano Sant’Anna, na época diretor da entidade, o mesmo que veio agora trazer, com sua mulher, brilho para o Felit.
Não sei de fato onde acaba toda essa narrativa. O que me inspirou a escrevê-la foi justamente a constatação de que a atividade cultural não se faz apenas com recursos de leis de incentivo. É óbvio que os recursos financeiros são imprescindíveis para o êxito dos eventos. Mas há muita coisa a mais a se conquistar: o maior envolvimento da comunidade, adequação e excelência   artístico-cultural da programação e principalmente a libertação do jugo da ditadura dos interesses do marketing, que determinam a presença de artistas consagrados com cachês absurdamente elevados (não digo isso em relação ao 5º Felit).  
Já estamos à espera do 6º Felit com toda disposição para ajudar a  torná-lo o melhor de todos. Uma parte muito expressiva da cidade quer se juntar a vocês - Lúcio, Mário, José Eduardo e outros de quem não me lembro o nome agora - para que o reconhecimento ao esforço  abnegado que despendem se traduza, a cada ano, em efervescência literária que anime as ruas e as almas de nossa terra.