sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ritual do queijo


Depois do período de festas e excessos de todos os tipos, recomeço, enfim, a atividade do blog. Retomo as evocações à memória de meu pai com dois textos. Um deles é a reprodução de uma publicação da empresa de insumos para a indústrias laticínios, CHR Hanser, de 2003, que destaca José Rezende como um dos queijeiros mais ilustres do Brasil. No outro, publico um poema em que expresso todo o meu sentimento como provador de queijo, nas viagens que papai me levava às fábricas do Laticínios Campo Lindo, que funcionavam nas fazendas.












 Gorgonzolla Dannita, primeiro
 lugar em Concurso Nacional  

Ritual do queijo



Quantas vezes
experimentei
a surpresa do sabor
da primeira parte
do queijo virgem
que meu pai
com precisão
perfurava
Queijos escolhidos
ao acaso
mas que tinham
(para mim)
 uma vitalidade silenciosa                                           
Eram tantos
na prateleira
que sentia
a concorrência
a apelar pelo olfato
do menino
uma opção
Meu pai
com sabedoria
distinguia um
entre centenas
Aturdido
e fascinado
eu comia a porção
que meu pai arrancara
Extraía todo o suor
do retireiro ao fabricante
do capim e farelo
que a vaca anônima
ruminara
Extraía, sem compreender,
daquele acidental
pedaço de queijo,
todo o milagre
de uma transformação
Comia vagarosamente
o queijo
como  se pudesse
eternizar                                                      
àquela emoção
Entre nós
meu pai, o queijo e eu
celebrava-se
silenciosamente
um ritual
que ainda hoje
sobrevive em mim