quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Acorda São João del-Rei - 7 de dezembro de 2011

Nada  melhor do que uma data comemorativa - aniversário de pessoas, de festas profanas e religiosas, de fatos históricos, de conquistas esportivas- para ativar os mecanismos de nossa memória. A celebração dos 307 anos de fundação de São João del-Rei, amanhã, dia oito, me faz recordar principalmente das alegrias que vivi nesta cidade desde fevereiro de 1988.
O que mais me impressiona é a constatação de que foi em São João del-Rei, entre todas as cidades onde morei - São Vicente de Minas, Belo Horizonte, São Luís do Maranhão, São Paulo- que eu passei a maior parte de minha vida, 23 anos. Não só pelo período tão extenso, mas por ter me envolvido tanto com a cidade, hoje São João del-Rei é minha terra, quando alguém me pergunta de onde sou. Isso sem apagar minha visceral ligação com São Vicente de Minas, torrão e berço natal.
Essa mesma sensação de pertencimento à cidade se estende a minha esposa, Lúcia - paulista, de Olímpia- e aos filhos Fernando e Vítor, ludovicences (o gentio de São Luís do Maranhão) de certidão e Anita, paulistana. Os filhos, aliás, se enraizaram tão profundamente na cultura da cidade que, aí sim, praticamente se esqueceram de outros vínculos. Seus amigos de infância e adolescência, seus colegas de escola, as primeiras namoradas e namorados são quase todos são-joanenses.
Grande parte de minha existência na cidade se deu através de minhas atividades profissionais na Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei, FUNREI, posteriormente promovida à Universidade Federal de São João del-Rei-UFSJ. Tenho muito orgulho de ter participado ativamente da construção da universidade, ao lado de amigos e amigas, entre os quais destaco, pela maior proximidade de convivência, João Bosco de Castro Teixeira, Magda Assis, Weber Neder Issa, Antônio Carlos Freitas, Paulo Leão, Marco Túlio Raposo, Maria José Cassiano, Mário Netto Borges.
A admiração por São João del-Rei sempre transcendeu essa ligação com a universidade. Talvez porque já na minha juventude, quando estudava em Belo Horizonte, São João era ponto de passagem obrigatória nessas idas-e-vindas. Todavia, só fui conhecer plenamente a riqueza do patrimônio histórico e artístico-cultural da cidade depois que mudei para cá. Antes disso, acompanhei Lúcia em visita à cidade para registrar evidências da preciosa arte barroca e colonial. Naquela época (1979), embora encantados com São João, jamais imaginaríamos que, nove anos anos mais tarde, este seria o nosso lar.

Desde então, passei a conhecer e desfrutar outras expressivas manifestações da cultura são-joanense: a Maria Fumaça e o complexo ferroviário, as orquestras bicentenárias Lira São Joanense e Ribeiro Bastos, a Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano de Almeida (a primeira biblioteca pública de Minas Gerais) com seu valiosíssimo acervo de mais de 4 mil obras raras, a tradição dos rituais religiosos na Semana Santa e outras celebrações, o Teatro Municipal, o Cine Glória... Poderia me alongar excessivamente se citasse todas as belezas da cidade.
Mais minuciosamente, tive também a oportunidade de conhecer os inúmeros jornais publicados aqui a partir do século XIX, que hoje integram o acervo da Biblioteca Municipal. Foi com enorme prazer que coordenei,  junto com a profa. Ana Lúcia, na época diretora da Biblioteca, o projeto de digitalização e criação de base de dados na Internet de coleções desses jornais. Devo ainda à cidade a possibilidade de apreciar a obra jornalística e literária de Otto Lara Resende, nosso escritor mais ilustre. Desse contato com a obra de Otto, alías, resultaram artigos e uma homenagem da UFSJ, no XVII Inverno Cultural.
Pois é, São João del-Rei me deu muito, certamente passei aqui momentos inesquecíveis de minha vida. Já prestes a comemorar bodas de prata de minha existência são-joanense, continuo, no entanto, sem entender porque essa cidade magnífica ainda não conquistou condições elementares de qualidade de vida: planejamento urbano adequado, limpeza pública, trânsito organizado, espaços públicos de lazer e entretenimento, transporte coletivo satisfatório, saneamento básico mínimo nas áreas mais pobres...
Como explicação imediata, poderia atribuir essas deficiências - e outras que não mencionei - à omissão e  ineficiência do poder público, em suas diferentes instâncias: executiva, legislativa e judiciária. Mas isso, além de não resolver os problemas,  indica também o nosso descompromisso como cidadãos, a nossa alienação política. Até quando ficaremos inertes, passivos frente a essa situação. As eleições de 2012 devem ser o começo dessa mudança. Se nada fizermos, não poderemos reclamar dessa situação absurdamente contraditória: um patrimônio histórico e artístico-cultural tão maravilhoso em uma cidade descuidada, feia e suja. Como diria o grande amigo Adenor Simões, acorda São João del-Rei.



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