segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


                    A falta que ele faz



Zeca e o neto Fernando, na casa de  São Vicente
A falta que ele faz doeu muito  a cada dia que passou nesses últimos 12 meses. Dia 22, quinta -feira que vem, celebramos a nossa saudade de papai. Saudade da proteção e segurança que sua presença entre nós inspirava. Ao perdê-lo, ficamos sem nossa referência principal, a nossa bússola de orientação. Mesmo nós, todos seus filhos e filhas com mais de sessenta anos de idade. Foi como se retornássemos a um período de nossas vidas, em que ele e mamãe nos conduziam pela mão. 


Família Menezes de Rezende com Ivone Norremose à direita e uma vizinha com a filha, à esquerda.
Guilherme está no colo da mãe. Márcio é o único ausente na foto. Casa da estação em São Vicente, 1951 
A saudade que evoca a sensação de perda também suscita sentimentos reconfortantes. Aprendemos com papai o valor de princípios essenciais a uma vida digna: a responsabilidade perante a si mesmo e aos outros, o trabalho como fonte de realização e sobrevivência, a honestidade em todas as relações.  De todas as virtudes, uma ele nos legou especialmente: a simplicidade. Nunca se deixou impressionar pelo sucesso como empresário e homem público, foi fiel aos seus familiares, aos amigos e aos empregados, com os quais convivia como se fosse um deles. Alguns até se tornaram seus amigos: Juquinha, Joãozinho, Renato, Joaquim, Roberto.
Da esquerda para direita: Bartholdy, Tio Carlito,  Zeca e  a filha Ana. São Vicente de Minas , por volta de 1954


Na lealdade a quem lhe deu oportunidades (Seu Bartholdy), ou foi incondicionalmente solidário (Tio Carlito, Arne) manifestava também o seu senso de gratidão e amizade.  Tamanha ou maior intensidade de afeto se notava no carinho que devotava  aos pais e ao irmão que morreu,  ao mais-que-irmão, Datinho, e às irmãs Semírames, Ondina e Maria Isabel. De tão grande, essa afeição se estendia a outros parentes, como os  primos queridos, Geraldo e Chichico. Que me perdoem aqui todos que aqui se incluem nessa lista e que não tiveram os nomes mencionados, parentes ou não. 


Os filhos na casa de Lavras: Inês, Guilherme, Jane, Dodora, Márcio, Ana e José Carlos 






















Depois de respirar fundo para enfrentar os efeitos de tantas recordações, começamos, a partir de hoje, neste blog e por outros meios de expressão, a resgatar a memória de Zeca, o irmão, o filho, amigo, o colega, o patrão, o marido, o avô, o PAI. Será uma maneira de ludibriar a morte e eternizar a sua existência. Só assim, poderemos resistir à dolorosa ausência e transformar a saudade em promessa de um glorioso reencontro em outras dimensões.





Bom dia Guilherme.

Tentei acessar os comentários mas não sei como funciona. De qualquer forma,estou lhe enviando fragmentos de uma tentativa de escrever alguma coisa que fiz em 2006,com forte cunho auto-biográfico.Vamos lá:

                                                                1958
                                                          
Era uma fria manhã de inverno e ele, um garoto de uns dez anos, esperava( com um sentimento que se aproximava mais de uma perda de algo muito querido ) seu pai que tomava café na sala de jantar.

O vento era cortante pois era agosto e esta era uma característica do clima na região montanhosa e solitária onde viviam. Embora bastante agasalhado nada podia desfazer aquela sensação de perda, a angustia da solidão, aliada ao receio do desconhecido. Com certeza esta era a sensação do que mais tarde viria a sentir novamente: um frio na barriga.

-Lourenço, onde está você? Não se esqueça de lavar as mãos antes de sairmos.Já colocou as suas coisas no carro?

Era sua mãe, uma senhora deliciosamente alegre e cativante, talvez um pouco alegre demais para os padrões, mas, sem dúvida, uma pessoa extremamente gentil.

Aparentava ser mais velha do que deveria, mesmo porque, apesar de toda a disposição que apresentava,viu-se acometida precocemente de uma doença neurológica que lhe fazia tremer as mãos e que, mais tarde, soube-se tratar do mal de Parkinson.

Disposição também não faltava ao pai, acostumado ao trabalho desde pequeno. Este aparentava ser mais jovem que sua mãe, até porque gozava de uma saúde de ferro.

Seria de bom alvitre agora apresentarmos ao leitor o motivo que levava a despertar no jovem Lourenço este sentimento de pura consternação.

É que no lugar onde moravam não havia como estudar após concluir o curso primário e, para prosseguir nos estudos, fazia-se mister que os jovens, mesmo que ainda crianças, fossem para um colégio interno,em outras cidades.

Paremos agora para refletir sobre esta situação em que se encontrava o desolado Lourenço: se ver, de repente, sozinho, num lugar estranho, distante de seus pais, de seus irmãos e amigos, de todas as coisas que lhe eram tão queridas e, porque não dizer, indispensáveis?

No sacolejar do carro na poeirenta estrada em que viajavam, ia Lourenço no banco traseiro, calado mas sem contestar, pois sabia ser isto inútil e que ainda poderia lhe custar umas boas palmadas.

Talvez a grande e maior lembrança do internato tenha sido quando, ao ser deixado no dormitório dos meninos menores, com sua pequena mala sobre a cama, ouviu o ruído de um carro que se afastava e, ao chegar na janela do segundo andar, conseguiu ainda rever o carro em que estavam seus pais se afastando e deixando um rastro de poeira e Lourenço na mais profunda solidão.”

Saudades.
José Carlos Rezende.





Oi José Carlos.
 Seu conto é profundamente tocante. Fiquei muito emocionado.
Abs.
Guilherme


Oi Guilherme,
Obrigado pelo que escreveu.
Eu já havia escrito sobre isto alguns anos atrás e coloquei no computador em 2006.
À época,o título era 1958 pois remetia também à copa na Suécia.
Enfim,faça dele o que lhe aprouver.O motivo continua sendo nossos pais.
Abraço.
José Carlos. 



O pai, Zeca, entre os filhos Guilherme, José Carlos e Márcio e os netos, Daniel (no colo de José Carlos) e Cláudio (ao lado do pai, Márcio). Casa de São Vicente, por volta de 1977.





Família Menezes de Rezende, por volta de 1949, em frente à casa da estação, em São Vicente de Minas. José Carlos está no colo da babá Mariinha

                          
Anita, "uma senhora alegre e cativante"


















   

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