terça-feira, 13 de dezembro de 2011

De olho nas oportunidades

Termino o ano entre recordações do passado, gratificações do presente e perspectivas para 2012. No sábado, dia 17, vou me encontrar com colegas de minha turma de graduação, que, em 1974, concluiu o bacharelado em Comunicação Social na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, a aguerrida FAFICH da rua Carangola, em Belo Horizonte. Da numeroso grupo de 50 alunos, não poucos, hoje sessentões, mantiveram o ritual de se reunir todos os anos, no mês de dezembro, para relembrar passagens inesquecíveis da faculdade. As festas de confraternização sempre ocorreram em algum bar ou restaurante de Belo Horizonte. Neste ano, excepcionalmente, o encontro vai se realizar em Tiradentes, na casa de uma das meninas da turma, Maria Cristina Bahia.
É mesmo um acontecimento incomum nos dias de hoje. O convívio frequente com um outro colega de escola já é uma raridade, imagine então rever grande parte deles, anos seguidos, agora em 2011, 37 anos depois da formatura. E se a maioria não participa, quem não pode vir não deixa de se comunicar com o grupo para desculpar-se pela ausência, desejar boas festas e cobrar o envio das fotos que vão registrar como foi o encontro. O que será que ainda nos motiva para a renovação desse ritual, eu me pergunto? Mais do que a enorme saudade dos tempos da juventude, me arrisco a supor que se deva ao sentimento de pertencer a uma coletividade com peculiaridades identitárias bem definidas, algo singular nesses dias de identidades híbridas, mutantes.
Já estou me preparando para ouvir histórias que se repetem desde a década de 1970, retomar brincadeiras que reacendem lembranças tão caras, desmanchar-se em infindáveis brindes e expressões de afeto.

Prazer da insatisfação

As gratificações vou extrair de meu trabalho como professor orientador do mestrado em Crítica da Cultura na Universidade Federal de São João del-Rei. Ao me aposentar em fevereiro, tinha a consciência de que ainda teria que cumprir algumas tarefas antes de me entregar totalmente aos prazeres do ócio. Se não me contentava apenas em cumprir tabela até a defesa de dissertação de meu último orientando, não me iludia com a possibilidade de me envolver intensamente com objetos de pesquisa de alunos. Não é bem isso que vem acontecendo. Estou experimentando de novo a satisfação com a atividade intelectual de interpretação e análise de questões relacionadas à comunicação, às artes e aos processos culturais, em um contexto mais amplo. Mais importante é que isso tem se dado em um situação de diálogo, de troca, de descoberta conjunta, muito próxima do que entendo ser a relação ideal entre professor e aluno.
O que especificamente tem me proporcionado essa gratificação culmina nesta quinta-feira, dia 15, na sessão de defesa da dissertação da mestranda Aline Torres Carvalho sobre o espetáculo da narrativa midiática da trajetória de herói virtuoso de Chico Xavier. Assim aparentemente, se trata apenas de mais um trabalho acadêmico de mestrado. No entanto, muito mais relevante do que as observações e reflexões que a pesquisa suscitou foi a riqueza do processo de feitura da dissertação.
Entre as muitas virtudes de Aline- sagacidade na compreensão e articulação dos referenciais teóricos, clareza e fluência de raciocínio e de escrita- uma foi fundamental: a de nunca considerar o trabalho satisfatoriamente concluído. Mal acabava de fechar um trecho, lá vinha Aline com suas dúvidas, em incontáveis e-mails ou nos encontros presenciais.  Em alguns momentos, eu cheguei a ficar transtornado: "ah não, essa Aline não sossega".Aos poucos, até por afinidades de signo - somos virginianos, irremediavelmente inseguros, pessimistas e autocríticos- aprendi a lidar com tudo isso com muito bom humor. Só agora sei que o bom o humor não veio por acaso, resultou do prazer que o comportamento instigante de Aline provocava. Deixei-me contagiar por aquele estado permanente de"insatisfação intelectual" e passei a dar vazão a análises e reflexões que estavam contidas e receber com o máximo de
abertura às reaçõe- às vezes pareciam provocações- de Aline. Esses instantes me fizeram sentir realizado como pesquisador, professor e até mesmo pensador. Maior recompensa não poderia pretender, porque dessa experiência tiro a lição de que nossas potencialidades sempre estarão à espera do estímulo propiciado por uma oportunidade.

Prontidão para oportunidades.

Justamente ao começar a falar sobre as perspectivas para 2012, fica mais claro na consciência o quanto foi importante desfrutar a gratificação que descrevi nos parágrafos anteriores. Foi um alerta para me colocar em prontidão para identificar as oportunidades que surgirão com o novo ano. Não interessa de que natureza sejam essas oportunidades: culturais, profissionais, sentimentais, espirituais. Devo ter sensibilidade e capacidade para aproveitá-las adequadamente e me aprimorar como ser humano em crescente estado de harmonia com tudo que me cerca, ou melhor, me expande

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